Propina da Fetranspor desviou R$ 120 milhões e aumentou valor da passagem no Rio, diz Lélis Teixeira

Propina da Fetranspor desviou R$ 120 milhões e aumentou valor da passagem no Rio, diz Lélis Teixeira

19 de novembro de 2019 Off Por Redação Revista do Ônibus

RIO – O ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro – Fetranspor, Lélis Teixeira, segue revelando destalhes da corrupção entre o setor de transporte e autoridade políticas. O delator, revelou que em dez anos, foram desviados R$ 120 milhões para o pagamento de propina de meno menos 30 políticos no Estado do Rio de Janeiro.

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Foto: Reprodução de TV

De acordo com uma reportagem publicada nesta terça-feira (19), no Jornal O Globo, o forte esquema de propina envolvendo o transporte e o setor político, acabou prejudicando os passageiros, que em 2017 sofreram com o reajuste nas tarifas das linhas intermunicipais. Ainda de acordo Lélis Teixeira, a inflação no período foi de 6,99%, mas as empresas obtiveram mais que o dobro (14,83%) de aumento.

Durante a delação, Lélis afirmou que a Fetranspor conseguiu um percentual maior alegando que seria para cobrir gratuidades concedidas a estudantes da rede pública e pessoas com necessidades especiais.

As empresas de ônibus também conseguiram benefícios ficais, como redução do IPVA e isenção do ICMS em 2014, época em que Sérgio Cabral, do MDB, governava o Rio de Janeiro.

Políticos citados por Lélis Teixeira

Na delação, em que o jornal e o RJ1 tiveram acesso, Lélis Teixeira cita nomes como o então secretário de transportes do estado, Júlio Lopes e Carlos Roberto Osório, que foi secretário municipal de Transportes do Rio e depois assumiu a secretaria estadual no governo Pezão.

Além dos políticos, candidatos à prefeitura e ao governo do Rio, como o atual Marcelo Crivella, o ex-prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Anthony Garotinho também foram citados.

Julio Lopes (Progressista)

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Segundo Lélis Teixeira, Julio Lopes recebeu R$ 7,9 milhões de forma ilegal quando secretário de transportes do estado. O pagamento foi feito em mesadas de R$ 100 mil e em um contrato fictício com um escritório de advocacia, no valor de R$ 900 mil.


Carlos Roberto Osório (PSDB)

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O outro nome é o de Carlos Roberto Osorio, atualmente no PSDB, que também foi secretário municipal de Transportes. Ele teria recebido entre R$ 160 mil e R$ 200 mil por mês, de 2012 a 2015.


Marcelo Crivella (Republicanos)

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Segundo o delator, Crivella recebeu recursos via caixa 2 (não declarar oficialmente dinheiro de campanha eleitoral), quando concorreu à prefeitura, em 2004, ao senado em 2010 e de novo à prefeitura, em 2016.

Na última campanha, segundo Lélis, foram repassados R$ 2,5 milhões a Mauro Macedo, tesoureiro de Crivella. Na delação, constam conversas de WhatsApp que Lélis Teixeira entregou à Justiça, nas quais marcava encontros com Macedo.

Em uma das conversas, de agosto de 2016, Mauro Macedo diz a Lélis: “Bom Dia! Meu amigo, em primeiro lugar agradecer pela reunião, muito proveitosa”. O delator diz que depois da eleição, ele e David Barata, na época conselheiro da Rioônibus, foram procuradores pelo tesoureiro.

Mauro Macedo disse, segundo o delator, que gostaria de devolver R$ 300 mil em espécie que eram sobra de campanha.


Eduardo Paes (DEM)

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O ex-prefeito Eduardo Paes também é citado. O delator afirmou que ele recebeu R$ 40 milhões em 2012 para a campanha de reeleição. O deputado federal e ex-secretário Pedro Paulo teria ficado com R$ 10 milhões para sua campanha à prefeitura do Rio em 2016.


Anthony Garotinho

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Outro citado na delação é o ex-governador Anthony Garotinho. Lélis Teixeira afirma que, durante uma reunião em 2010, Anthony Garotinho, atualmente sem partido, solicitou o pagamento de R$ 30 mil mensais a pretexto de patrocínio para seu programa de rádio.

O delator afirma que José Carlos Lavouras – ex-conselheiro da Fetranspor, atualmente foragido em Portugal – concordou com o pagamento do valor solicitado e que ficou decidido que nem o nome da Fetranspor, nem o de nenhuma empresa de ônibus seria citado durante o programa.

Lélis Teixeira afirmou ter repassado mais R$ 4 milhões da Fetranspor, na campanha seguinte, em 2014, quando Anthony Garotinho foi candidato a governador.


Luiz Fernando Pezão (MDB)

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A delação aponta também que, nas mesmas eleições, Luiz Fernando Pezão, do MDB, recebeu R$ 30 milhões da Fetranspor e que parte dos pagamentos foi em dinheiro.

No entanto, segundo Lélis Teixeira, o ex-secretário de obras, Hudson Braga, solicitou a Lavouras que outros pagamentos fossem realizados pela Fetranspor a empresas que teriam prestado serviços a campanha de Pezão.


Delação também atinge o Legislativo

Lélis Teixeira afirmou que o esquema envolvendo políticos e empresas de ônibus durou mais de 20 anos e que o dinheiro arrecadado com o vale-transporte era usado no pagamento das propinas.

Na Câmara do Rio, o ex-presidente da Fetranspor disse que 15 vereadores e ex-vereadores teriam recebido de R$ 6 mil a R$ 8 mil por mês pra defender interesses do setor e impedir o avanço de CPIs que investigassem as empresas de ônibus.

Entre eles, segundo a reportagem e a delação, os ex-presidentes da casa, Sami Jorge, que já morreu, Ivan Moreira, atualmente conselheiro do Tribunal de Contas do Município, e o atual presidente Jorge Felippe, do MDB.

Lélis Teixeira afirma ter pago propina também na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, citando oito deputados e ex-deputados na delação.

No grupo, os ex-presidentes Jorge Picciani e Paulo Melo – os dois do MDB – e presos pem 2017 acusados de terem recebido dinheiro da caixinha da Fetranspor.

O que dizem os citados na delação

Fetranspor

Em nota, a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) esclareceu que a atual administração desconhece a ocorrência de “supostos fatos relacionados à gestão anterior, não tendo tomado conhecimento de quaisquer pagamentos realizados com o intuito de obtenção de benefícios para o setor”.

Confira a nota na íntegra:

“A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) vem a público esclarecer que:

1) Lélis Teixeira foi presidente-executivo da Fetranspor entre 2010 e 2017. O executivo também presidiu o Rio Ônibus entre 1999 e 2017;

2) A atual administração da Federação – que tomou posse em setembro de 2017 – desconhece a ocorrência de supostos fatos relacionados à gestão anterior, não tendo tomado conhecimento de quaisquer pagamentos realizados com o intuito de obtenção de benefícios para o setor;

3) A Fetranspor tem desenvolvido uma profunda reestruturação interna, com o estabelecimento de uma rígida política de conformidade e integridade, além do fortalecimento de sua administração com uma moderna e ativa governança corporativa;

4) Ao assumir o comando da instituição, o atual presidente executivo – um profissional de mercado sem qualquer ligação com o setor de transporte por ônibus – promoveu uma ampla revisão sobre todos os contratos vigentes, de modo a rescindir aqueles que porventura apresentassem possibilidade de questionamentos internos ou externos;

5) A Federação reafirma seu compromisso com o atual modelo de gestão, que prioriza a transparência de seus atos, a valorização dos controles internos e o respeito às normas que regulam o setor;

6) A Fetranspor está comprometida em colaborar com as investigações em andamento e cumprir as determinações judiciais, permanecendo à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos que se façam necessários”.

David Barata

O empresário negou as alegações feitas por Lélis Teixeira e afirmou que não irá se manifestar sobre a “suposta delação cujo conteúdo não teve acesso”.

Júlio Lopes (Progressista)

O político afirmou que é alvo de “injustas acusações” e que, mesmo inocentado, teve os bens bloqueados e o nome “injustamente exposto por quase uma década”. Também ponderou que “o combate a corrupção é pauta sensível a toda sociedade, mas devemos ter o cuidado de não generalizar”.

Confira a nota na íntegra:

“Infelizmente as autoridades públicas vêm sendo criminalizadas, indiscriminadamente. Não é a primeira vez que sou alvo de injustas acusações, tive meus bens bloqueados e meu nome injustamente exposto por quase uma década no caso do “bondinho”, mesmo sendo inocentado fato reconhecido em sentença judicial neste ano, fui acusado apenas por ser ter sido a única autoridade que prontamente compareceu ao local e se colocou à disposição das vítimas. Por fim, o combate a corrupção é pauta sensível a toda sociedade, mas devemos ter o cuidado de não generalizar”.

Garotinho

A defesa do ex-governador afirma que as informações dadas por Lélis Teixeira “são completamente descabidas e inverídicas, movidas unicamente por um desejo de vingança”.

Confira a nota na íntegra:

“A defesa de Anthony Garotinho afirma que, logo que o ex-governador assumiu o governo do estado, em 1999, ele determinou a redução das passagens de ônibus na Região Metropolitana do Rio de Janeiro com base em estudos técnicos. Foi também Garotinho quem legalizou 4 mil vans para transporte interestadual.

Está claro, portanto, que as informações dadas por Lélis Teixeira a respeito do ex-governador são completamente descabidas e inverídicas, movidas unicamente por um desejo de vingança.

Garotinho sempre foi implacável com as empresas de ônibus, exigindo a prestação de serviço adequado das empresas de ônibus para a população”.

Luiz Fernando Pezão (MDB)

A defesa do ex-governador negou o recebimento de qualquer valor a título de propina.

Eduardo Paes (DEM)

O ex-prefeito do Rio de Janeiro afirmou que a prestação de contas na campanha de 2012 teve “todas as doações declaradas e foi aprovada pela justiça eleitoral”. E que “é lamentável que tenhamos que responder a acusações sem conhecer o teor delas”.

Paulo Mello

A defesa do ex-deputado afirma que ele “sempre negou o recebimento de valores a título de propina”.

Carlos Alberto Osório (PSDB)

Procurada, a defesa de Carlos Alberto Osório não retornou até a última atualização desta reportagem.

Pedro Paulo (DEM)

O deputado afirmou que “todos os valores doados durante a campanha de 2016 foram devidamente declarados, e a prestação de contas foi aprovada na Justiça Eleitoral. Lamento ter que responder a acusações levianas que desconheço”.

Jorge Picciani

Sobre Lélis Teixeira, o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro desafiou “este senhor ou qualquer um a provar um único ato meu que tenha beneficiado o setor de transporte”.

Confira a nota na íntegra:

“Embora não tenha tido acesso à delação premiada de Lélis Teixeira, afirmo que são mentirosas as alegações desse senhor a meu respeito.

Essas declarações são requentadas e meu nome foi citado de forma genérica.

Desafio este senhor ou qualquer um a provar um único ato meu que tenha beneficiado o setor de transporte”.

Marcelo Crivella e Mauro Macedo:

O atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Podemos) afirmou que “é lamentável ver a imprensa sendo usada como massa de manobra para atender a interesses claramente eleitorais” e que “se existe um político que não poderia ter se beneficiado de algum esquema com os empresários de ônibus, este político é Marcelo Crivella”.

Confira a nota na íntegra:

“É lamentável ver a imprensa sendo usada como massa de manobra para atender a interesses claramente eleitorais.

Ainda mais neste momento, em que o prefeito Marcelo Crivella enfrenta um dos grupos empresariais mais poderosos do país, tentando cessar a sangria de verbas públicas provocadas por um contrato abusivo de exploração do pedágio da Linha Amarela.

Também é de se estranhar que a Revista Crusoé publique uma matéria com denúncias tão sérias sem ouvir o prefeito Crivella, como mandam os manuais do bom jornalismo, que parecem estar dormindo nas gavetas da redação.

Até porque vários outros citados tiveram espaço para suas defesas na matéria…

Não é a primeira vez que a oposição usa a imprensa para divulgar denúncias falsas tentando ligar o prefeito do Rio a políticos e empresários corruptos, mas nunca conseguiram provar nada contra ele. Será mesmo que o senhor Lélis Teixeira fez essa acusação?

Onde estão as provas?

Da última vez que a imprensa tentou fazer tal covardia contra a honra do prefeito levou um desmentido do próprio suposto denunciante, no caso, outro empresário de ônibus, Jacob Barata.

Se existe um político que não poderia ter se beneficiado de algum esquema com os empresários de ônibus, este político é Marcelo Crivella.

Porque, desde o início de sua gestão à frente da Prefeitura do Rio, enfrentou o poderoso lobby das empresas de ônibus e proibiu o aumento das tarifas, tradicional benesse de que vinham desfrutando confortavelmente nas gestões anteriores.

O embate virou uma disputa judicial, ganha por Crivella.

E hoje o município tem uma passagem de R$ 4,05 reais, uma das menores entre as capitais do porte do Rio.

Em São Paulo, por exemplo, a tarifa é de R$ 4,30 e o governo já pagou mais de R$ 9 bilhões em subsídios para manter o valor em patamares mais baixos.

Todas as contas de campanha de Crivella foram devidamente aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Eleito para a Prefeitura do Rio, realiza uma gestão austera com os gastos públicos, sem qualquer denúncia de corrupção.

Enfrentar grupos poderosos que usam a imprensa para tentar obter vantagens tem sido a luta de Marcelo Crivella.

Mas jamais conseguirão manchar sua honra e sua trajetória.

Porque a verdade sempre prevalecerá.”

Ivan Moreira

O atual conselheiro do Tribunal de Contas do Município afirma desconhecer o teor da delação e que está “com consciência tranquila e a disposição para quaisquer outros esclarecimentos”.

Confira a nota na íntegra:

“Desconheço o teor da delação, mas posso afirmar que sempre agi dentro da legalidade e moralidade, em defesa do interesse público.

No caso específico das empresas de ônibus, vale ressaltar que determinei ao executivo que se abstivesse de realizar a revisão de tarifa até o término da auditoria, bem como recomendei a instalação de ar condicionado nos ônibus, dentre outras medidas, que contrariaram interesses do próprio setor de transportes.

Ressalto ainda, que quanto ao rateio das gratuidades, esta questão foi equacionada através do Poder Discricionário do Chefe do Poder Executivo Municipal dentro de suas atribuições.

Estou portanto, com consciência tranquila e a disposição para quaisquer outros esclarecimentos”.

Jorge Felippe

A defesa de Jorge Felippe afirma que “contrariando as mentiras do delator, Jorge Felippe esclarece que deferiu as CPIs da Rio Ônibus de 2013 e de 2017, e sempre colocou em pauta e votou a favor de projetos contra as empresas de transportes. O que não deixa dúvida sobre a lisura de seus atos”.

José Carlos Lavouras

O ex-conselheiro da Fetranspor afirma que “a delação vazada do senhor Lelis impressiona pela quantidade de mentiras e invenções. Difícil de acreditar que tal acordo, pela desfaçatez do delator, tenha sido aceito.”

Com informações da Tv Globo e Globo News